Ana Calhau Interna de Formação Específica de Ginecologia-Obstetrícia; Colaboradora do Banco do Bebé.
Para que serve a Amniocentese e quando se deve fazer
No início da gravidez, algumas grávidas deparam-se com a decisão de realizar ou não uma amniocentese, procedimento que causa algum receio e ansiedade. É realizada após as 15 semanas de gestação mas o timing exacto da sua realização é variável e dependente do motivo.
A amniocentese é um procedimento em que é retirada uma pequena quantidade de líquido amniótico (líquido que circunda o bebé) do interior do útero, através do abdómen da mãe.
No líquido amniótico são encontradas células e químicos em suspensão, o que permite realizar, em laboratório, a análise do cariótipo do bebé (conjunto de cromossomas e genes de cada indivíduo), e diagnosticar cromossomopatias (doenças dos cromossomas), sendo a mais comum a Trissomia 21 ou Síndrome de Down.
Em que situações é aconselhada a amniocentese?
Poderá estar indicada em situações como:
- Ecografia ou rastreio de 1º trimestre (análise de sangue) que demonstrem risco aumentado de o bebé vir a ter uma doença genética, nomeadamente trissomia 21.
- Pai ou mãe com doença genética que possa ser transmitida ao bebé.
- Doença genética familiar.
- Suspeita de infecção fetal (por exemplo infecções virais ou toxoplasmose durante a gravidez).
- Idade materna avançada (acima dos 35 anos) – não é indicação formal, uma vez que, hoje em dia, dispomos de outros testes para avaliar o risco do bebé de desenvolver cromossomopatias. No entanto, as grávidas que se enquadram nesta faixa etária, geralmente, podem decidir se querem realizar amniocentese ou não, mesmo quando os seus rastreios (ecográficos e através de análise de sangue) são de baixo risco.
Como é feita a amniocentese?
O exame é sempre guiado por ecografia e é feito por obstetras experientes neste tipo de procedimentos invasivos. A sonda ecográfica é colocada no abdómen materno, para avaliar a posição do bebé e da placenta, decidindo assim qual o local mais seguro para efectuar a punção. Após a desinfecção dessa área é realizada a punção, inserindo uma agulha fina através do abdómen da mãe até ao interior do útero e é retirada uma pequena amostra de líquido amniótico, através de uma seringa.
O volume de líquido retirado, na grande maioria dos casos, é restabelecido em pouco tempo pelo próprio bebé.
A amniocentese provoca dor?
Este é um dos receios mais comuns quando falamos sobre este procedimento.
A maior parte das grávidas considera a amniocentese desconfortável, mas não verdadeiramente dolorosa. É um procedimento limpo e ao fim de poucos minutos está terminado. Algumas grávidas referem uma ligeira dor no fundo da barriga no dia do procedimento, que geralmente melhora em pouco tempo. Recomenda-se que, nos dois dias seguintes, leve uma vida mais calma, com repouso em casa e sem grandes esforços físicos.
Embora sejam raros, a amniocentese, não está isenta de riscos.
Podem existir complicações como:
- Perda de líquido amniótico – pouco frequente, geralmente em pouca quantidade e auto-limitada.
- Caso a agulha toque no feto, existe um risco muito reduzido de causar lesão fetal.
- Infeção do útero.
- Abortamento espontâneo – tradicionalmente considera-se um risco de 1/100 gestações, ou seja, 99% das gestações continuam sem complicações. No entanto, a grande maioria dos hospitais tem taxas ainda menores de complicações.
Deverá contactar o seu médico ou recorrer ao Serviço de Urgência se notar um corrimento vaginal invulgar ou com sangue; dor abdominal tipo cólica que piora ou febre superior a 38 ºC.
A amniocentese é considerada um teste fiável, pois representa um teste diagnóstico, com avaliação directa do cariótipo do seu bebé.
Existem testes alternativos à amniocentese, nomeadamente a análise do ADN do bebé através de uma amostra de sangue da mãe, no entanto, trata-se de um teste de rastreio (e não de diagnóstico) que identifica os casos em que existe risco aumentado de doenças genéticas, com um grande grau de certeza, no entanto, por vezes necessita de confirmação por amniocentese para análise directa do líquido amniótico.
Converse com o seu médico sobre as opções que existem ao seu dispor, sendo importante reafirmar que nem todas as grávidas têm indicação para realizar este tipo de exames.
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